quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Contos, Poemas, Cartas e Outros Cheiros

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Poema de puta


Essa noite eu escrevi um puta poema de puta

Puta também é gente

Também ama

Também sofre

Também fica contente

Essa noite me vesti de puta

Pra saber se arde a pimenta no rabo da gente

Quem condena a puta

Não sabe o que é ser puta

Puta que pariu

Quanta caretice

Se esconderem cada vez que digo puta

Puta é só um nome

Lembra fruta

Quem nunca desejou uma bela fruta?

Eu já

Hoje me vesti de puta e sai por aí a me aventurar

Como sofri...

Comi o pão que o diabo amassou com o rabo sujo de merda

E ainda tem uns filhos da puta que dizem que a puta ganha vida fácil

Não é fácil ser puta não

Desisti de ser puta então

Mas descobri que vida de puta é um poema

De muita dor

E algumas delícias

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Aquela Noite

Plural

Sábado à noite e eu no quarto, com a luz apagada, deitado na cama, ouvindo o som dos carros lá fora, caía uma fina chuva, o que me acovardava ainda mais em sair de casa, mas sábado a noite é sempre, ou quase sempre tão bom sair de casa, principalmente por que sempre rolam umas paqueras, e de repente pode ser mais interessante estar deitado em minha cama, acompanhado por um corpo quente, a estar sozinho embrulhado com a luz apagada e ouvindo o som dos carros lá fora. Meu dia fora bastante tumultuado e cansativo hoje. Sou fotógrafo e trabalho para uma revista local, mas mesmo cansado, confesso que uma das coisas que menos me atrai, é não fazer nada, penso logo na quantidade de coisas que eu poderia fazer na rua, penso em pessoas lotando os motéis, os bares, as ruas, boates, e sinto inveja dos que estão vivendo enquanto eu durmo, e deixo a vida passar.

O barulho dos carros lá fora era convidativo.

Levantei-me, pus-me nu, larguei minha cueca na porta do banheiro deixando lá atrás no piso do quarto minha camiseta branca, fui tomar um banho, enquanto molhava-me, pensava se realmente deveria sair de casa aquela noite. Seria melhor deitar-me novamente em minha confortável cama e entregar-me ao sono? Estava de fato cansado, mas enquanto a água fria molhava meu corpo, despertava-me o desejo do inesperado, do sexo, das loucuras todas que envolvem as noites de sábado. Saí do banheiro sem toalha, totalmente nu, meu apartamento fica em frente a outros dois apartamentos, e sempre que faço isso, percebo que tem alguém a me olhar. Não foi diferente. Fui até a cozinha, cortei duas grandes laranjas e preparei um suco, voltei tomando o suco totalmente nu, e percebi que estava sendo observado por uma mulher que morava no terceiro andar, ela fumava um cigarro e era a única coisa que a denunciava na escuridão de sua sala, além dela, um jovem em seu quarto, no andar debaixo, também me observava, ele era um adolescente de aparentemente dezesseis anos, não parecia ter vergonha de que eu o visse. Apaguei a luz da sala, mas o pouco de luz que vazava da cozinha era o suficiente. Tomei ali meu suco e fui me aprontar. Estava decidido a sair de casa. Coloquei uma calça jeans bastante surrada e uma camiseta branca. Deitei na cama, mas antes passei os olhos no meu rádio-relógio que marcavam 22:15. Acho que adormeci.

Despertei assustado, dei um pulo da cama, e saí cambaleando pela casa como se estivesse atrasado a um encontro marcado, nem olhei para o relógio. Entrei no elevador ainda sonolento e confesso que nem me lembro bem de como cheguei até meu carro. De frente, um comercio bem variado, panificadora, locadora, floricultura, avicultura e diversos bares. Meu carro estava estacionado exatamente na frente de um dos bares e o pior é que uma tremenda confusão estava acontecendo justamente ali naquele bar. Homens gritando, quebrando garrafas, tirando a camisa, dei as costas e abri a porta do meu carro. Escutei tiros, mas nem olhei para trás, e foi então que senti algo penetrando minha cabeça, um gosto de sangue tomou conta de minha garganta, era uma bala perdida. Meu corpo caiu na calçada molhada, pessoas correram e passaram por mim, ouvi mais alguns tiros enquanto olhava involuntariamente um céu escuro e chuvoso. Senti vontade de mijar, e acabei mijando ali mesmo, nas minhas velhas calças surradas. Um barulho de polícia ensurdecia-me, meus olhos agora estavam fechados e eu não tinha força para gritar por socorro. Ouvi de longe um toque de telefone, tentei abri os olhos, mas não consegui. Insistentemente a companhia de um celular gritava, estava suando frio e achei que fosse morrer, Dei um pulo seguido de um estrondoso grito e sentei-me assustado, percebi que era o toque de meu celular que insistia em me chamar, e que eu estava todo mijado em cima de minha cama, levantei-me sonolento, meu telefone parou te tocar, pus-me nu, larguei minha cueca na porta do banheiro enquanto a camiseta caia ali mesmo no piso do quarto, fui tomar um banho, enquanto me molhava pensava se realmente deveria sair de casa aquela noite.




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O resumo de uma amizade reduzida a pó de nitrato.

Esplanada dos ministérios, palco de tantas comemorações, e manifestações. Outubro de 2006, o show das décadas com Gal Costa, Toquinho, Zélia Duncan, Orlando Moraes, e Titãs. Cerca de 20 mil pessoas presente. Eu esperei por cinco horas a chegada de Frugoli, (produtor da Gal) que havia me prometido uma camiseta livre acesso a área vip do show. Já com a camiseta na mão, mudei de idéia, desisti da área vip e fui mesmo para o gramado encontrar alguns amigos, eis que me surge um poeta, sem nome, cabelo crescido, pés à mostra.
O poeta? Mostrou-se em partes pequenas, porém sedutoras.
Eu? Mostrei-me inteiro num palco iluminado. Peguei sua mão e o trouxe para bem perto de mim, exibindo-o para o meu mundo, como se um grande presente.
Mãe-amor fui eu. Carreguei-o para dentro de minha casa, oferecendo meu conforto, e o pedaço maior do pão-doce que havia guardado. Disse-lhe coisas bacanas para que ele pudesse ter boa noite, e pintei de vermelho meu nariz, para lhe garantir dias bons. Falei dos sonhos meus, e ajudei-o a construir um nome.
Eu podia enxergar ali um mundo de realizações e parceria.

Apontei para suas asas, e disse-lhe que um dia ele poderia voar. Viajamos muito juntos, por sonhos, palcos, realizações, e desejos.
Durante uma dessas viagens, quando a chuva caia, ele disse-me: Já vou. Eu não acreditei. Não seria louco o bastante quebrando assim, minhas pernas em alto mar. Ele quebrou! Deixando-me ali, sozinho na chuva, com a cara lavada de sal. Pedi socorro e ele nem sequer olhou para trás, como se inimigo.

Quando lhe disse que poderia voar, ele acreditou, mas não me perguntou como.

Há aves que possuem enormes asas e não saem do chão.

Para que se possa voar, é preciso que se aprenda o verdadeiro sentido da amizade e o significado da palavra respeito, se não, permanecerá ciscando.
Então eu cantei, cantei para não enlouquecer, e nadei contra a maré.

Agora que já sinto tocar em meus pés a areia firme, acho que sobrevivi. Ainda que eu esteja perdido entre perguntas, sem respostas, procurando entender, porque o amor virou assim as costas, já se faz presente à vontade do riso em mim.
Hoje confesso, se eu pudesse voltar ao passado, entraria na área vip do show, não arriscaria meus pés naquele gramado





Errado é o Certo
(Plural)



Depois de refletir um tanto, e rebobinar o que passou, percebi que você não é a pessoa certa pra mim.

Hoje estou mais certo que nunca disso, graças a Deus!
As pessoas certas são chatas, não se atrasam, falam palavras bonitas e doces, de tão doces chegam enjoar.

Por isso me atraio por ti. Por ser assim: Todo errado.
É quem me faz perder a cabeça, falar besteiras, virar copos, sentir ciúme, enlouquecer...
A pessoa certa não passa um dia sem me ligar.

A pessoa errada me faz esperar dias, e nenhuma ligação.

Quando o telefone toca, toca alto em mim a esperança.

Você é tão errado que me faz chorar, mas chega na hora certa de secar as mesmas lágrimas.
Pra quê uma pessoa certa em minha vida?

Minha vida nunca foi lá muito certa mesmo.
Se tudo der certo, você permanecerá errado assim,

Soltando-me a mão ainda no meio do caminho, pra que eu possa provar a mim mesmo, e ao mundo inteiro, o quanto sou capaz.

Depois de ter encontrado a pessoa errada, as coisas começaram a se acertar.

Vou pedir aos deuses todos, ainda que nem esteja certo de que eles existam que conservem presente a pessoa errada,

Só assim será alimentado em mim, o desejo de acertar.



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